quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


Tive uma infância bonita e feliz. E acredito que como toda criança, aprontei muita "arte".
Hoje estava relembrando de algumas dessas aventuras.
Meu pai dizia que eu era um "aculumo de crianças", porque não tinha como calcular a energia e as encrencas que eu me envolvia.
Sempre fui muito apaixonada por bichos, mas não queria um cachorro ou um gato. Sempre procurava os bichos mais diferentes e misteriosos possíveis como tartaruga, coelho, pintinho (que depois virava um galo enorme), papagaio e acompanhados sempre de um cachorro. Um único animal não era suficiente.
Na verdade eram os meus brinquedos favoritos e até hoje não sei como eles me aguentavam, eu era terrível e pentelhava eles durante todo o dia, sem dar paz. Esses iram para o céu.
Vivia sempre na expectativa de encontrar um novo animal diferente , mantendo sempre meus olhos atentos para as oportunidades.
Era tão atenta e esperta que enrolava meu pai e minha mãe nas conversas mais furadas e não sei como eles caiam nas minhas tramoias. E sem perceber já estava lá, dentro de casa, um novo bichinho de estimação.
Vou contar a história de um deles, uma das primeiras conquistas. Seu nome era Paco e o animal um coelho, mas não considerava um coelho.
Estava no primário quando a minha professora perguntou para todos os alunos:
- Meus queridos alunos, quem gostaria de ganhar um coelho?
E claro que na hora levantei a mão. Ela em seguida falou que uma amiga que tinha os filhotes e que iria dar um para ela sortear entre os alunos que falassem com os pais. Após a autorização dos pais os alunos deveriam levar no dia do sorteio uma caixa de sapatos onde seria o meio de transporte da escola para o seu novo lar.
Claro que eu nem perguntei para os meus pais, mas transferi o recado com algumas modificações:
- Pai a professora vai fazer um sorteio de um coelho amanhã com todos, mas não se preocupe que não é de verdade e junto ela pede pra levar uma caixa de sapato vazia e preciso de uma.
Meu pai na maior boa vontade arrumou a caixa enquanto minha mãe resmungava dizendo que eu estava aprontando algo.
No outro dia cheguei na escola com a caixa de sapato e aproveitei no caminho e recolhi alguns matinhos para meu novo animal de estimação. A certeza era tanta, que já queria escolher o nome, se era macho ou fêmea, como ia ser sua casinha pra dormir e tudo mais.
Ao chegar na sala de aula pra minha surpresa e satisfação, nenhum amiguinho tinha levado a caixa, ou melhor, nenhum pai queria um coelho em casa.
Eu já estava sorridente, feliz, ansiosa. Sem precisar de sorteio fiquei com o coelho na mesma hora.
Lembro como se estivesse agora dentro do onibus escolar, com a caixa de sapatos na mãos e alguns furos do lado na caixa e sentindo o coelho de lá pra cá.
Quando desci do onibus minha mãe veio até o portão como todos os dias para me buscar. Quando me viu segurando a caixa primeiro e esquecendo todo o restante das minhas coisas, a sua primeira reação foi colocar a mão na cabeça e dizer:
- Meu Deus, mas essa não.
Ela não podia dizer um "não quero", e nem devolver para a professora, já era tarde demais. Eu estava com um sorriso de ponta a ponta, com os olhos cheios de lágrimas de tanta felicidade, mas claro que dramatizando um pouco para que ela nem pensasse em falar com a professora ou dar eu lindo coelho embora.
Queria que o coelho dormisse comigo, e naquela noite havia perdido totalmente o sono. Coitadinho do coelho, daquele dia em diante não dava paz pra sua vida e o batizei como PACO.
O engraçado que o Paco era diferente de qualquer coelho e era considerado um guardião. Mas como assim devem se perguntar.
Este coelho deixava qualquer pessoa entrar em casa, mas não deixava ninguém sair. Quando via que a pessoa ia embora, ficava rodeando entre os pés e as vezes dava coice, fazendo a pessoa se assustar . Era realmente bravo e claro, só obedecia o meu chamado.
Não sou louca, mas era isso que acontecia, ninguém tocava no coelho a não ser eu, até mesmo para passar remédio nas suas lindas e longas orelhas, ele gritava e corria por todos os cantos, mas comigo mantinha a calma.
Ele viveu comigo durante anos, até minha mãe não aguentar mais o Paco e suas bravesas, e resolveu me convence que ele precisava de uma namorada e que já havia até encontrado uma.
Existia um vizinho que tinha duas lindas fêmeas como estimação, mas elas viviam presas em uma gaiola no seu jardim, pois lá existia um cachorro que não era como o meu calmo e tranquilo, ele era bravo e formiga, se os coelhos ou qualquer outro animal de pequeno porte aparecesse lá, ele devorava.
Bem fui conhecer antes de qualquer coisa, suas opções de namoradas e gostei de uma delas, de pele branca e orelhas cor de rosa, era o seu par perfeito combinando com o caramelo da sua pele e com suas orelhas douradas.
Eu claro que determinei as regras, ele ficaria lá até namorar e ter filhotes pra ganhar mais um coelho, mas mal sabia que ele não iria mais voltar, minha mãe estava dando o meu pobre coelho e ao mesmo tempo o entregando para a morte.
Ele não durou um mês na sua nova casa. Como vivia livre entre o quintal, um belo dia escapou da gaiola e o cachorro o devorou sem dó nem piedade.
Fiquei triste e com muita raiva daquele cachorro e do meu vizinho, que não queria ver nem pintado de ouro.
Como toda criança birrenta e teimosa comecei a minha nova busca e assim vieram mais aventuras e diversão garantida.
Mas outra hora volto a contar da minha infância divertida com meus lindos animais.

3 comentários:

  1. Que vc seja abençoada também, assim como nossa amizade...bjooooooooooooo
    Adoro vc!

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  2. Essas "aprontações" da infância são sempre legais e fazem parte das nossas vidas. O legal é que se repetem e à medida que o tempo passa vamos vendo as nossas crianças fazendo o mesmo, ou melhor, parece que tínhamos mais criatividade...rsrsrs! Lindo,Raquel e o Paco te fez bem feliz por um tempão. Valeu a aprontação!!!um beijo,chica

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  3. Eu não poderia estar mais feliz por você !
    A Raquel em prosa é tão atraente quanto a em verso, só que a primeira é uma nova mulher que está aos poucos criando lembranças tão especiais quanto as desse post.
    Lembre-se: o passado é o que o presente já foi. Portanto, valorize as coisas boas que acontecem todos os dias !

    Beijos,
    Fabio.

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